Correndo a Blogosfera : O que eu andei lendo.
Os deolindos
Coitados dos deolindos, esses putos de 25 anos que apesar de terem uma licenciatura em gestão de artes cénicas não encontram trabalho na sua área e que como muito são contratados para um estágio onde não recebem mais de quinhentos euros e que não têm dinheiro para comprar uma casa com três quartos no Chiado e por isso vivem com os pais em vez de partilhar um apartamento com mais três deolindos e que são obrigados a andar de transportes porque não há banco que lhes dê um crédito para comprar um Golf. É fodido ter 25 anos e confirmar que a vida lá fora não respeita as mordomias a que estávamos habituados em casa dos pais. É fodido não receber 2.000 Euros porque “fartei-me de estudar”, é fodida a incerteza de um contrato de trabalho merdoso, é fodido. Eu acho bem que os deolindos se queixem à porta da Bicaense, que bramem contra as injustiças do liberalismo, que cantem hinos no festival da Zambujeira. Pois. O que eu já acho mesmo fodido é que os Deolinda, esse grupo de intervenção estilo Lux, não cantem a essa geração de trabalhadores das fábricas de São João da Madeira que se matam a trabalhar de sol a sol e pelo salário mínimo, se é que recebem, porque muitas das vezes os patrões declaram-se em falência para abrir outra fábrica mesmo ao lado. Fodido mesmo é que o Bloco de Esquerda, os líderes da esquerda betinha e fracturante, nunca se tenha lembrado dos salários miseráveis das educadoras de infância, das empregadas de supermercado, das cabeleireiras, das senhoras da limpeza, porque esta gente não canta hinos, não é gira, não tem um curso superior em Cultura Visual, não lê Paul Auster, não tem tempo para se queixar porque passa a vida a trabalhar. Básicamente, estes defensores da suposta geração perdida são incapazes de sentir empatia pelo povão, pela que sempre se chamou classe trabalhadora e que é realmente a geração desperdiçada, gente cuja força bruta e capacidade de sacrifício e de trabalho ninguém aproveitou mais que para encher centros comerciais e estádios de futebol. Gente que acorda de madrugada para dar de comer aos filhos e a uns pais cuja reforma não passa dos cem euros, que paga empréstimos, crédito habitação, impostos, segurança social, tem os putos em escolas e ATL, mas que chega ao fim do mês sem capacidade de poupança porque não lhes dá o ordenado para mais e que não sai da cepa torta, incapaz de pertencer à classe média, que é a que levanta o país e que realmente deveria interessar ao Bloco, aos deolindas e a todos estes indignados. Mas esta gente que não interessa a ninguém porque não vai a concertos no Coliseu ouvir os Deolinda porque não têm dinheiro nem pais a quem continuar a chular as entradas enquanto se queixam que são escravizados.
Obs:
Transcrição integral do post “Os deolindos” com a devida vénia ao blogue Rititi. Subscrevo inteiramente. Esta conversa dos deolindos e deolindas é a nova versão do coitadinho, só que mais intelectual é claro, mais fashion!
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