"Angola é governada por criminosos", disse esta terça-feira, em Bruxelas, num debate promovido pela eurodeputada portuguesa Ana Gomes (PS), nas instalações do Parlamento Europeu, sobre o relatório "Deception in High Places", que denuncia um alegado negócio de corrupção entre Angola e a Rússia.
"As vítimas são os angolanos, que continuam a ser empobrecidos pelo seu próprio Governo", salientou o ex-embaixador, que interveio no debate, referindo-se às indicações do relatório das organizações não-governamentais “Corruption Watch” e a Associação Mãos Livres.
Segundo o relatório, altos responsáveis de Luanda - incluindo o Presidente – podem ter estado envolvidos num contrato de restruturação de dívida à Rússia, nos anos 1990, que terá lesado Angola em mais de 700 milhões de dólares.
"É chocante a facilidade dos negócios sujos, de como são feitos aos olhos de todos", salientou, reiterando que foi já apresentada uma queixa junto da Procuradoria-Geral da República em Luanda, da qual é um dos autores.
De acordo com o relatório, em causa está um acordo para reestruturar a dívida de Angola à Rússia que data dos anos 1990 e que terá beneficiado várias figuras do regime e intermediários.
Distribuição de dinheiro
"Como partes centrais do contrato estiveram Pierre Falcone e Arcadi Gaydamak", dois empresários envolvidos no escândalo Angolagate, sobre venda ilícita de armamento francês a Angola nos anos 1990, um caso julgado em 2009 em França, refere um comunicado da organização anti-corrupção com sede no Reino Unido e da Associação Mãos Livres, defensora de direitos humanos, composta por advogados e com sede em Luanda.
Angola entregou à Rússia notas promissórias no valor de 1,5 mil milhões de dólares, que tencionava pagar ao longo de 15 anos, mas a Rússia envolveu no negócio a intermediária Abalone Investments (constituída pelos empresários Gaydamak e Falcone) que viria a comprar essas notas à Rússia a metade do preço, com pagamento durante sete anos.
Luanda, no entanto, pagou à Abalone os 1,5 mil milhões de dólares para liquidar as "notas promissórias", pagamentos que eram provenientes da petrolífera estatal angolana, Sonangol, e envolveram o banco suíço UBS.
Segundo o relatório divulgado pelas ONG, o negócio terá beneficiado o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, em 36 milhões de dólares, enquanto cerca de 38 milhões de dólares foram distribuídos por quatro outros altos funcionários públicos angolanos.
Nas recomendações do relatório, as ONG instam a União Europeia a garantir que a directiva (lei europeia) sobre branqueamento de capitais preveja fortes controlos sobre o registo de proprietários de empresas.
Fonte: RR
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=26&did=105086
Etiquetas: África, Angola, Corrupção, Direitos Humanos