«Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal»
[…]
«Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram “cultura livresca”. O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa – e noutras partes do mundo – é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.»
[…]
«Passaram 50 anos e, por razões diferentes, a escola hoje destrói a leitura. Seja com a análise estruturalista linguística dos textos, seja pela ideia de que escola tem de ser mais a acção e tem de ser mais projecto e mais mil coisas que fazem a nova escola. A leitura na escola é a última das preocupações.»
È claro, António Barreto mandou às urtigas o politicamente correcto e disse o que tinha a dizer sobre o histerismo tecnológico que anda por aí.
A transcrição(acima)de algumas passagens da entrevista de António Barreto à revista LER de Março, palavras estas, deviam fazer eco nos gabinetes dos responsáveis do ensino do nosso país. Responsáveis mais preocupados com resultados estatísticos do que a qualidade do ensino.
De facto as novas tecnologias são essenciais, mesmo imprescindíveis nos nossos dias. Não é preciso ser um génio para se perceber isso. A formação tecnológica mínima devia fazer parte integrante de qualquer escalão e ramo de ensino.
Agora colocar os computadores nos píncaros do sistema de ensino é um absurdo. È um equivoco.
Chamar “cultura livresca” à leitura a ao livro é um péssimo exemplo e um mau sinal. Talvez esteja aqui a explicação da falta de investimento nas bibliotecas públicas nos dias de hoje.
Quer queiramos ou não, por mais computadores, por mais “gadgets” tecnológicos para suporte à leitura, o LIVRO como objecto de cultura é insubstituível. Foi a maior invenção da humanidade! Ainda hoje.
Livros no computador nos mais variados suportes ou em aparelhos desenhados especificamente para o efeito como o Kindle, que é dos melhores aparelhos para a leitura que conheço, não substitui o livro tradicional.
Pessoalmente utilizo o Kindle para suporte de manuais informáticos, são muitos, e assim dá imenso jeito estarem todos juntos no mesmo suporte. Para manuais, sejam de que disciplina forem o aparelho em causa é de uma grande utilidade, dado a sua portabilidade. Agora ler o livro do Desassossego de Bernardo Soares/Fernando Pessoa,
ou um romance de Agustina Bessa-Luís, num suporte destes, é impensável!. Não dá.
Toda a magia da obra se perde.
Mas há quem continue a defender o livro e a leitura. Apesar de tudo, tenho o gosto de ver “as mais e desvairadas gentes”, a continuar a divulgar o livro, a fazer autênticas campanhas em prole da leitura. Dois exemplos que sigo com todo o interesse - estes são o que mais me tocam diariamente.
- O blogue “Projecto Clarice” (divulga a obra literária da escritora brasileira Clarice Lispector.).
- O blogue Lume & Ar da Escola Secundária do Lumiar.
Blogue generalista (dentro da área da educação), foca a literatura, novas obras e seus autores, arte, ambiente, teatro, geografia, etc.
A bloguer é daqueles professores que gosta de livros, da leitura e principalmente gosta de passar esse testemunho aos mais novos, aos alunos fundamentalmente. Nada há de mais nobre. Enquanto houver pessoas assim, os nossos filhos estarão certamente muito melhor, na companhia destes professores e dos LIVROS.