Manifesto em defesa de
Seguro diz que governo de Sócrates foi um desastre
Por Luís Claro
publicado em 25 Jun 2014 - 05:00
Os
ex-dirigentes Henrique Neto, Ventura Leite, Rómulo Machado e Gomes Marques
criticam declaração dos históricos do PS
Um
grupo de militantes do PS veio responder à declaração dos notáveis do partido a
pedir "uma rápida clarificação no PS". O apelo, com a assinatura de
Jorge Sampaio, Manuel Alegre, Almeida Santos e Vera Jardim merece uma resposta
dura num texto, a que o i teve acesso e que publica na
íntegra, intitulado "Sejamos consequentes", em que a governação de
José Sócrates é classificada como um "descalabro" e é claro o apelo
aos socialistas para que não deixem voltar ao poder "os mesmos que no PS
conduziram Portugal para o desastre".
São
quatro os socialistas - Henrique Neto, Ventura Leite, Rómulo Machado e António
Gomes Marques - que dizem ter recebido com "surpresa" a declaração
dos notáveis, que consideram ser "a favor de António Costa". Alguns
destes socialistas ocuparam cargos de relevo no PS, como Henrique Neto, que foi
dirigente do partido e deputado, e Ventura Leite, que foi deputado nos tempos
de Sócrates, mas entrou em ruptura com o partido por discordar da governação do
então primeiro-ministro. Na resposta aos notáveis, o grupo de ex-dirigentes
lamenta que "estas quatro personalidades" do PS se tenham mantido
"quase sempre caladas" durante os anos em que Sócrates governou o
país. "Nesse período sempre verificámos com angústia, como certamente
muitos outros portugueses e socialistas, que o interesse nacional andou a
reboque dos interesses partidários do grupo no poder, sem que isso tivesse
conduzido a uma posição tão relevante como a que agora foi tornada
pública."
CRÍTICAS A SÓCRATES Com a
"plena consciência" de que estão a tomar uma "posição
impopular", estes militantes socialistas defendem que o "mau
governo" da coligação PSD/CDS não pode fazer esquecer que não foi a
direita que "preparou o terreno para os cortes salariais, para as
privatizações feitas sem critério e para o descrédito das instituições". A
culpa, assumem, foi dos governos do PS: "Fomos nós socialistas que o
fizemos e quanto mais rapidamente o compreendermos melhor será para o PS e para
Portugal."
Os erros cometidos nos tempos de
Sócrates são para estes socialistas razão mais que suficiente para impedir o
regresso ao poder dos "mesmos que conduziram Portugal para o
desastre". Isso seria, dizem, um "crime contra a Nação Portuguesa e
um ultraje aos princípios e valores do Partido Socialista".
As críticas destes ex-dirigentes
do PS à governação de Sócrates são antigas. Joaquim Ventura Leite protagonizou,
em 2009, um momento pouco habitual no parlamento com um deputado socialista a
pedir ao governo que invertesse o rumo, sob pena de conduzir o país ao
"desastre" e ao "descrédito" no plano internacional.
O empresário Henrique Neto foi
das vozes mais críticas, a nível interno, nos tempos de Sócrates. Em 2011, o
ex-deputado pediu mesmo a demissão de Sócrates da liderança para permitir uma
renovação a tempo das eleições legislativas desse ano. Rómulo Machado foi dos
poucos que, no congresso de 2011, levantaram a voz contra Sócrates para o
acusar de ter levado o país à bancarrota.
Os quatro militantes lamentam ter
sido "ignorados" e "frequentemente vilipendiados, apenas por
denunciar os erros, os jogos de interesses e os estragos que a governação do PS
estava a infligir a Portugal". Três anos depois de Sócrates ter saído do
governo, o grupo de militantes entra na disputa entre Costa e Seguro para
tentar evitar o regresso dos que acusam de ter levado Portugal para "os
braços da dependência internacional e para o sacrifício de milhões de
portugueses".
Por Jornal i
publicado em 25 Jun 2014 - 05:00
Foi com alguma surpresa
que na passada sexta-feira lemos em dois jornais, “Público” e i, que quatro
notáveis militantes do Partido Socialista – Jorge Sampaio, Manuel Alegre, Vera
Jardim e Almeida Santos – tomaram uma posição pública na actual contenda
partidária do PS, pedindo urgência na solução do diferendo, posição que,
intencionalmente ou não, é nas actuais circunstâncias favorável à candidatura
de António Costa, mas dizendo, apesar de tudo, o que deveria ser para todos
óbvio: “um partido não existe para si mesmo” e que “a prioridade é sempre
Portugal”.
É esta frase óbvia que
nos obriga a publicar este texto. Porque dificilmente haveria um outro tempo em
que a frase tivesse tido maior oportunidade em ser usada do que durante os seis
trágicos anos do descalabro económico, financeiro e social, que foi a
governação de José Sócrates. Infelizmente, estas quatro relevantes
personalidades do Partido Socialista mantiveram-se quase sempre caladas durante
esse período, ou pior, colaboraram com as diatribes do então secretário-geral e
primeiro-ministro, incluindo actos pouco democráticos, como alguns dos
protagonizados pelo Dr. Almeida Santos. Nesse período sempre verificámos com
angústia, como certamente muitos outros portugueses e socialistas, que o
interesse nacional andou a reboque dos interesses partidários do grupo no
poder, sem que isso tivesse conduzido a uma posição tão relevante como a que
agora foi tornada pública.
Temos a plena
consciência de que esta nossa tomada de posição é impopular em muitos sectores,
fora e dentro do PS, na justa medida em que nos habituámos a venerar
acriticamente os nossos maiores, aqueles que com maior ou menor razão e justiça
se guindaram ao topo do poder político em Portugal. Fazemo-lo porque, como
alguns outros socialistas, ganhámos esse direito durante esses seis anos,
porque como militantes socialistas fomos ignorados nas nossas críticas,
frequentemente vilipendiados, apenas por denunciar os erros, os jogos de
interesses e os estragos que a governação do PS estava a infligir a Portugal.
Escrevemos dezenas de textos, participámos em dezenas de programas de rádio e
de televisão e, como alguns outros, sofremos o silêncio cúmplice de quem tinha
a obrigação e o poder de evitar que o PS conduzisse Portugal para os braços da
dependência internacional e para o sacrifício de milhões de portugueses.
Sejamos sérios, o actual
governo de maioria PSD/CDS é um mau governo, que não sabe ou não quer evitar
mais sacrifícios aos portugueses, mas não foi este Governo que preparou o
terreno para os cortes salariais, para as privatizações feitas sem critério e
para o descrédito das instituições. Fomos nós socialistas que o fizemos e
quanto mais rapidamente o compreendermos melhor será para o PS e para Portugal.
Inversamente, fazer voltar ao poder político os mesmos que no PS conduziram
Portugal para o desastre, é um crime contra a Nação Portuguesa e um ultraje aos
princípios e valores do Partido Socialista.
Lisboa, 24 de Junho de
2014
António Gomes Marques
Henrique Neto
Joaquim Ventura Leite
Rómulo Machado
Etiquetas: Corrupção, Crise Nacional, Partido Socialista, Politica Nacional, Portugal, Sócrates